quinta-feira, maio 9, 2024
Ciência e Tecnologia

Pesquisador baiano usa bactérias para tornar plantas resistentes à seca

Um estudo recente mostrou que determinadas bactérias da caatinga são capazes de tornar as plantas resistentes à seca. A descoberta pode ajudar a reduzir o consumo de água nas lavouras e manter plantações em áreas com pouca disponibilidade hídrica.

O responsável pela descoberta é o professor e pesquisador da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Adailson Feitoza. Este começou sua pesquisa na área para encontrar uma maneira de evitar que as secas, esperadas para as próximas décadas, acabassem com as culturas agrícolas em áreas com água escassa.

Adailson Feitoza descobriu que determinadas bactérias da caatinga são capazes de tornar as plantas resistentes à seca.
Adailson Feitoza e seus alunos na Universidade Estadual da Bahia. Fonte: UNEB

Adailson focou seus estudos nas plantas nativas da caatinga, pois estas conseguem passar por longos períodos de seca devido às adaptações fisiológicas e morfológicas que desenvolveram ao longo da evolução. Estudando essas plantas, ele suspeitou que microrganismos (bactérias e fungos) associados a elas poderiam ser os responsáveis pela sua resistência a falta de água.

Desde então, ele e sua equipe de pesquisadores, passaram a buscar, em ambientes de caatinga, bactérias que tivessem a capacidade de tolerar condições típicas de ambientes áridos como altas temperaturas, solos salinos e baixa disponibilidade de água.

Após encontrá-las, os cientistas isolaram essas bactérias e usaram em plantas misturadas a um produto. O resultado do experimento foi surpreendente. As bactérias não só permitiram manter a cultura de milho crescendo com apenas 40% da quantidade de água que ela precisa como aumentou comprimento da planta e da raiz em 21,02% e 53,75% respectivamente.

A equipe de pesquisa pretende transformar esses microrganismos em um produto biológico (bioinsumo) que possa ser utilizado em culturas como milho, feijão, soja, tomate, dentre outros. Feitoza diz que, usando esse produto, os agricultores que plantam esperando a chuva não perderão a safra se houver redução da quantidade de água.

Durante o estudo, os especialistas também descobriram algumas espécies de bactérias capazes de produzir antibióticos e pigmentos que podem ser aplicados na indústria têxtil. Além disso, conseguiriam criar biopolímeros, como celulose bacteriana, que podem substituir as grandes plantações de Eucalipto. 

O potencial dos microrganismos da caatinga é enorme. Esse bioma tem grande biodiversidade e, consequentemente, potenciais genéticos únicos e índice de endemismo elevado. Porém, de acordo com os cientistas, esse potencial é negligenciado, o que pode representar perdas de oportunidade para desenvolvimento científico e tecnológico.

Atualmente, Feitoza e sua equipe estão ajustando a formulação do produto, tentando encontrar a melhor forma de gerar um bioinsumo eficaz que pode ser utilizado em várias regiões do país. Eles esperam fazer uma parceria com a iniciativa privada para captar investimento e avançar na próxima etapa da pesquisa.


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Lucila Freire

Geógrafa e Especialista em Gestão e Auditoria Ambiental. Atua como Consultora Ambiental. Fundou o Sustentabilidade No Ar, pois acredita na forte influência que os meios de comunicação têm sobre a sociedade e quer utilizá-lo para inspirar pessoas e promover conscientização ambiental.