sexta-feira, maio 17, 2024
Sustentabilidade

Projeto reusa água de esgoto tratado para irrigar plantações no Nordeste

No Brasil, são gerados 21,3 milhões de metros cúbicos de esgoto por dia, os quais são lançados, em sua maioria, diretamente nos rios e mares. Esse descarte incorreto polui os mananciais, tornando-os impróprios para consumo humano. Além disso, desperdiça um grande volume de água que poderia ser aproveitado após o tratamento adequado.

A água obtida do esgoto tratado pode ser usada em diversos fins, inclusive na agricultura. Ela é uma excelente alternativa para resolver o problema do abastecimento de água, sobretudo em áreas onde esse recurso é escasso. A sua utilização traz benefícios ao meio ambiente, pois evita a contaminação de corpos d’água, e economia aos cofres públicos porque diminui gastos com novas captações.

Plantações de palma forrageira irrigadas com água de esgoto tratada

Em regiões como o Semiárido nordestino, onde a falta de água é uma situação comum, o uso de água de esgoto tratado na produção agrícola poderia evitar grandes perdas de plantações e rebanhos todos os anos. Para se ter uma ideia, cerca de 4 milhões de animais morreram em 2012, no Nordeste, devido a escassez de água no período da estiagem.

Pensando em impedir perdas como essas que o professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte, Ivan de Oliveira Lima Júnior, criou o Projeto Palmas para Santana. Trata-se de uma iniciativa que utiliza água do esgoto tratado para irrigar plantações de palma forrageira no município de Santana de Seridó (RN).  

Como surgiu o Projeto Palmas para Santana

A ideia do projeto surgiu em 2013 quando uma pesquisa constatou que os produtores rurais tinham água para consumo próprio, mas não dispunham de uma fonte hídrica segura para produzir palma forrageira, o principal alimento do gado no semiárido. Aliado isso, houve a perda de 36,5 % do rebanho nesse período devido a seca, levando Ivan Júnior a buscar soluções alternativas para o problema da água.

Na oportunidade, Ivan pensou em usar o esgoto doméstico do município como fonte hídrica sustentável, pois era permanente e canalizado para a estação de tratamento da cidade. Assim, podia transformá-lo em água limpa e depois usar na irrigação. Entretanto, era necessário averiguar se esta água atendia aos padrões de qualidade exigidos pelos órgãos competentes.

Estação de tratamento de Santana do Seridó. Foto: ANA.

Como a análise laboratorial mostrou que a água de esgoto tratada tinha boa qualidade, esta passou a ser usada nas plantações de palma. Com isso, a produção desta cultura cresceu no município. Hoje são colhidas cerca de 400 toneladas de palma por ano. As plantações são mantidas com apenas 2% do volume total da água de reúso disponível. Os 98% restantes são despejados no rio Santana.

O projeto usa cerca de 30 mil litros de água de esgoto tratado por semana, mas a intenção é ampliar o uso desse recurso. Ivan Lima disse que os esgotos tem um potencial de irrigação gigantesco quando tratados adequadamente. Ele os considera como verdadeiros rios perenes, os quais deveriam ser melhor aproveitados.

Premiação

O projeto Palmas para Santana venceu quatro prêmios nacionais: o prêmio Mandacaru II, o 3° prêmio jornalístico ambiental da TETRA PAK em 2015, o prêmio de Melhores Práticas da Caixa Econômica Federal em 2016 e o prêmio ANA em 2017. Este último é a principal premiação brasileira relacionada ao manejo de água.

Lucila Freire

Geógrafa e Especialista em Gestão e Auditoria Ambiental. Atua como Consultora Ambiental. Fundou o Sustentabilidade No Ar, pois acredita na forte influência que os meios de comunicação têm sobre a sociedade e quer utilizá-lo para inspirar pessoas e promover conscientização ambiental.