quinta-feira, maio 9, 2024
Sustentabilidade

Lixo radioativo é tratado com o uso de cascas de arroz e café

Uma pesquisa recente do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN) mostrou que cascas de arroz e de café podem tratar rejeitos radioativos. Em testes, esses materiais absorveram com sucesso duas substâncias radioativas e ainda reduziram significativamente o volume dos rejeitos contaminados. O estudo foi publicado na revista científica Environmental Science and Pollution Research.

Os cientistas chegaram a esse resultado usando a técnica da biossorção, ou seja, aquela que utiliza biomassas para absorver contaminantes. No experimento, os pesquisadores usaram dois tipos de biomassas de cascas de arroz e de café: uma processada quimicamente com ácido e base e outra não processada.

Leandro Goulart de Araujo: cascas de arroz e café podem tratar rejeitos
Leandro Goulart de Araújo.
Foto ResearchGate

Leandro Goulart de Araújo, um dos autores do estudo, disse que, nos testes de laboratório, todas as biomassas utilizadas absorveram rejeitos radioativos de urânio e amerício. Ele também afirmou que “todas as biomassas transformaram um grande volume de rejeitos em uma pequena quantidade de biomassa”.

Das biomassas analisadas, a de casca de café não processada foi a que se mostrou mais eficaz na absorção dos rejeitos de urânio e de amerício. Entretanto, nem esta, nem as demais biomassas foram capazes de absorver o césio, outro grande contaminante radioativo. Para Leandro, isso ocorreu provavelmente em razão da acidez desse rejeito e de sua baixa concentração nas amostras.

Tanto o Césio quanto o urânio e o amerício são elementos muito utilizados em diversas atividades no mundo, principalmente as relacionadas com o uso de combustível nuclear em reatores de potência. Os rejeitos contaminados por eles são um grande problema ambiental e as técnicas de tratamento atuais desses resíduos exigem materiais de difícil obtenção, além de ter um alto custo.

A técnica da biossorção para retirada de contaminantes é vista pelos pesquisadores como uma alternativa viável e sustentável no tratamento de rejeitos radioativos, pois tem baixo custo e permite que um resíduo possa tratar outro. Além disso, possibilita a imobilização e o armazenamento da biomassa contaminada na forma sólida conforme às normas estabelecidas pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN).

Os estudiosos almejam, no futuro, usar a técnica da biossorção para reduzir volumes significativos de rejeito líquido a pequenas massas de rejeito sólido, facilitando seu acondicionamento final. A sua adoção em larga escala dependerá de novos experimentos, com uma quantidade de rejeitos mais próxima da existente em situações reais.

Lucila Freire

Geógrafa e Especialista em Gestão e Auditoria Ambiental. Atua como Consultora Ambiental. Fundou o Sustentabilidade No Ar, pois acredita na forte influência que os meios de comunicação têm sobre a sociedade e quer utilizá-lo para inspirar pessoas e promover conscientização ambiental.