terça-feira, setembro 17, 2024
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Minas Gerais reconhece sistema de agricultura tradicional como patrimônio

O sistema agrícola adotado por povos tradicionais que geram renda através da coleta das flores sempre-vivas na Serra do Espinhaço, em Minas Gerais, foi reconhecido como patrimônio cultural imaterial do Estado.

A medida, além de valorizar práticas que englobam técnicas ancestrais de manejo do meio ambiente, deve beneficiar aproximadamente vinte comunidades localizadas nos municípios de Diamantina, Couto Magalhães, Olhos D´Água, Presidente Kubitscheck, Buenópolis, Serro e Bocaiúva.

Os apanhadores de flores sempre-vivas, como são conhecidos, já haviam obtido o selo de Sistema Agrícola Tradicional de Importância Mundial (Sipam), concedido pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pela Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO).

O Sipam foi criado em 2002 para fortalecer e preservar práticas agrícolas mundiais que combinam a biodiversidade agrícola, patrimônios culturais e ecossistemas resistentes. No Brasil, o sistema de coleta das flores sempre-vivas foi o único a receber esse selo.

O selo Sipam foi concedido no mês passado em cerimônia na Itália, o que é um grande ganho já que, na América Latina, há apenas outras seis experiências que obtiveram este reconhecimento: uma no Chile, uma no Peru, duas no Equador e duas no México.

Flores sempre-vivas

As flores sempre-vivas têm esse nome pela sua capacidade de resistência ao longo do tempo, mantendo sua firmeza e sua cor. São muito usadas para elaboração de buquês de flores e decoração de eventos.

No Brasil, elas são típicas do bioma cerrado e a Serra do Espinhaço reúne aproximadamente 80% das suas espécies. Seus campos estão situados a cerca de 1,4 mil metros de altitude. Os apanhadores podem permanecer por lá durante semanas, se abrigando em ranchos ou grutas, conhecidas como lapas.

Este período voltado para a coleta das flores é também um momento de encontro e socialização das famílias camponesas que integram essas comunidades, algumas delas quilombolas.

Além de abastecer o mercado interno, a produção nacional desperta também o interesse de outros países. Segundo dados do governo brasileiro, os principais importadores são Estados Unidos, Países Baixos, Espanha e Itália.

As conquistas obtidas por essas populações – tanto no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU) como em Minas Gerais – levaram em conta sua sustentabilidade.

Isso porque a coleta exagerada de flores sempre-vivas para fins comerciais pode colocá-las em risco. Mas essas comunidades trabalham de forma coletiva, observando os ciclos naturais e calculando o volume de coleta de forma a garantir a renovação das espécies.

A coleta das sempre-vivas

A coleta das flores está associada a um sistema que envolve ainda outras atividades econômicas como o cultivo das roças e a criação de animais, que compõem a renda das populações e garantem a segurança alimentar.

agricultura tradicional como patrimônio
Sistema agrícola adotado na Serra do Espinhaço é reconhecido como patrimônio cultural imaterial de Minas Gerais 

A transumância – característica do modo de vida dessas populações – envolve o movimento de grupos familiares da parte baixo da Serra do Espinhaço, onde se concentram as residências e suas produções agrícolas, para a parte alta, onde passam a viver em lapas e em ranchos durante a fase de manejo da flora nativa. Esse deslocamento periódico, feito em diferentes elevações que vão de 600 a 1.400 metros de altitude, é definido com base no conhecimento acumulado sobre o meio ambiente.

A concessão do título de patrimônio cultural imaterial de Minas Gerais foi aprovada durante reunião ordinária do Conselho Estadual do Patrimônio Cultural (Conep).

Em nota divulgada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha), a presidente do órgão, Marília Palhares, destaca que o reconhecimento contribui para a preservação dos saberes. “São sábios, pois são várias comunidades que trabalham diretamente com seus territórios, o cuidado com os animais, o respeito às estações do ano, mudam a transumância e não utilizam produtos químicos”, finaliza.


Com informações da Agência Brasil

Lucila Freire

Geógrafa e Especialista em Gestão e Auditoria Ambiental. Atua como Consultora Ambiental. Fundou o Sustentabilidade No Ar, pois acredita na forte influência que os meios de comunicação têm sobre a sociedade e quer utilizá-lo para inspirar pessoas e promover conscientização ambiental.