Lixo radioativo é tratado com o uso de cascas de arroz e café
Uma pesquisa recente do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN) mostrou que cascas de arroz e de café podem tratar rejeitos radioativos. Em testes, esses materiais absorveram com sucesso duas substâncias radioativas e ainda reduziram significativamente o volume dos rejeitos contaminados. O estudo foi publicado na revista científica Environmental Science and Pollution Research.
Os cientistas chegaram a esse resultado usando a técnica da biossorção, ou seja, aquela que utiliza biomassas para absorver contaminantes. No experimento, os pesquisadores usaram dois tipos de biomassas de cascas de arroz e de café: uma processada quimicamente com ácido e base e outra não processada.
Leandro Goulart de Araújo, um dos autores do estudo, disse que, nos testes de laboratório, todas as biomassas utilizadas absorveram rejeitos radioativos de urânio e amerício. Ele também afirmou que “todas as biomassas transformaram um grande volume de rejeitos em uma pequena quantidade de biomassa”.
Das biomassas analisadas, a de casca de café não processada foi a que se mostrou mais eficaz na absorção dos rejeitos de urânio e de amerício. Entretanto, nem esta, nem as demais biomassas foram capazes de absorver o césio, outro grande contaminante radioativo. Para Leandro, isso ocorreu provavelmente em razão da acidez desse rejeito e de sua baixa concentração nas amostras.
Tanto o Césio quanto o urânio e o amerício são elementos muito utilizados em diversas atividades no mundo, principalmente as relacionadas com o uso de combustível nuclear em reatores de potência. Os rejeitos contaminados por eles são um grande problema ambiental e as técnicas de tratamento atuais desses resíduos exigem materiais de difícil obtenção, além de ter um alto custo.
A técnica da biossorção para retirada de contaminantes é vista pelos pesquisadores como uma alternativa viável e sustentável no tratamento de rejeitos radioativos, pois tem baixo custo e permite que um resíduo possa tratar outro. Além disso, possibilita a imobilização e o armazenamento da biomassa contaminada na forma sólida conforme às normas estabelecidas pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN).
Os estudiosos almejam, no futuro, usar a técnica da biossorção para reduzir volumes significativos de rejeito líquido a pequenas massas de rejeito sólido, facilitando seu acondicionamento final. A sua adoção em larga escala dependerá de novos experimentos, com uma quantidade de rejeitos mais próxima da existente em situações reais.