domingo, setembro 15, 2024
Animais ameaçados

Budião-azul volta a aparecer próximo da costa baiana durante pandemia

A redução do movimento de pessoas e de embarcações no mar, por conta das medidas de restrição do Covid-19, tem provocado uma mudança no comportamento de alguns animais marinhos. Devido à diminuição dos ruídos e à tranquilidade nas águas do oceano, alguns peixes, que antes se mantinham distantes da costa, agora estão nadando próximos a ela e em maior número. Um deles é o budião-azul.

O budião-azul é um peixe nativo do Brasil que é encontrado desde o litoral do Maranhão até o de Santa Catarina. Ele vive em pequenas profundidades, próximo a recifes, e se alimenta basicamente de algas que crescem nos corais. É uma espécie fundamental para o ecossistema marinho porque evita a morte dos corais provocada por sufocamento das algas.

Peixe budião-azul
Peixe budião-azul. Foto: Canal Matopiba.

Essa espécie está ameaçada de extinção. Segundo estimativas do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, a população do budião-azul declinou 50% em 30 anos e tende a aumentar se não forem tomadas medidas de conservação. A principal razão para o seu desaparecimento crescente é a pesca predatória, a qual ocorre frequentemente mesmo sendo restrita por lei.

Os primeiros relatos sobre o reaparecimento do budião-azul no litoral baiano surgiram durante a pandemia. Pescadores submarinos disseram que cardumes do peixe têm aparecido na região da Barra diariamente e que, nas duas últimas semanas, a quantidade deles aumentou. Mergulhadores profissionais também avistaram os peixes “passeando” nas águas da Praia do Porto da Barra.

Todos os anos, durante o Outono e o Inverno, cardumes de budião-azul migram para o litoral a fim de reproduzirem-se, diz o biólogo da Bahia Pesca, Roberto Pantalão. Esses peixes procuram as áreas de recifes e costumam se manter a uma distância considerável da Costa. Porém, este ano, eles se aproximaram muito e em maior quantidade, algo que pescadores e mergulhadores dizem ser raro de acontecer.

O retorno massivo da espécie tem sido atribuído, primordialmente, à redução do barulho no ambiente marinho. A maioria dos peixes têm uma boa audição e qualquer som ou movimento os faz dispersarem-se no mar, pois sentem-se ameaçados. Como o mar ficou mais silencioso por ter menos pessoas e embarcações gerando ruídos, acredita-se que isso fez os peixes voltarem a circular com mais proximidade à costa. 

Há outros fatores que também podem estar contribuindo com o retorno do budião-azul à Costa. Um deles é a limpeza do mar, ocasionada pela diminuição do lixo lançado nas águas durante a pandemia. O professor da Universidade Federal da Bahia e doutor em Oceanografia, George Olavo, acredita que o reaparecimento do peixe é consequência de uma série de fatores somados.

Como nenhuma pesquisa foi feita sobre esse assunto, nos últimos três meses, não é possível afirmar que o esvaziamento das parias e a tranquilidade no mar foram suficientes para atrair grandes cardumes de budião-azul ao litoral. Entretanto, a chegada da espécie ameaçada de extinção em grande número pode ser um indicativo de que a natureza talvez esteja se recuperando.
 

Lucila Freire

Geógrafa e Especialista em Gestão e Auditoria Ambiental. Atua como Consultora Ambiental. Fundou o Sustentabilidade No Ar, pois acredita na forte influência que os meios de comunicação têm sobre a sociedade e quer utilizá-lo para inspirar pessoas e promover conscientização ambiental.